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Qual é o significado da escola?

O que significa ser alfabetizado hoje? O que devemos ensinar na escola hoje? Quem deve decidir? O currículo pode abranger tudo? O que a escola dá que outros contextos educacionais não dão? É possível pensar em uma educação à prova de futuro? Que sentido têm conceitos como competências ou habilidades?

Porque, em última análise, perguntar-se por que aprender é se perguntar sobre o significado e o propósito da escola. E porque, em função das respostas que dermos a essas questões, orientaremos o sistema educativo em diferentes direções e, consequentemente, empurraremos a sociedade para diferentes futuros.

Perguntar  o que  devemos aprender tem fortes implicações  pedagógicas, metodológicas e organizacionais. Também, obviamente,  ideológica e política. Porque modificar  o que  significa repensar não só os conteúdos do currículo, mas também as nossas concepções sobre como aprendemos e como ensinamos, a organização escolar e as relações pedagógicas que estabelecemos com os outros. Perguntar-nos o que devemos aprender na escola é questionar-nos sobre a escola que queremos para os nossos filhos e também questionar-nos sobre o mundo que queremos construir.

A escola, sustenta Carlos Skliar, tem a ver com passar o mundo aos novos para que façam algo diferente com ele, esperando que seja algo melhor. A escola que queremos para os nossos filhos é aquela que lhes permite mobilizar os conhecimentos adquiridos para compreender o mundo e poder nele agir. Para orientá-los a responder e intervir da maneira mais adequada possível com relação aos problemas que a vida lhes apresentar. Aquele que os ajuda não só a construir o seu projeto de vida individual, mas também um projeto de vida em comum com os outros.

A escola é também o único e último lugar onde, para muitos indivíduos, está em jogo a invenção de uma outra língua e a realização de outros destinos. O lugar onde existe a possibilidade de transformar certas existências em outras e perceber que não há destinos traçados antecipadamente (Carlos Skliar). É o lugar por excelência das possibilidades.

A falta de reflexão compartilhada sobre essas questões, argumenta Daniel Brailovsky, geralmente leva à naturalização dos discursos dominantes, que tendem a ser os mais conservadores.

Paulo Freire dizia que “esperar que o ensino dos conteúdos, em si, provoque amanhã a inteligência radical da realidade é assumir uma postura espontânea, e não crítica. É cair na compreensão mágica do conteúdo, atribuindo-lhe uma força crítica por si só.” A escola de que precisamos não pode, portanto, ficar apenas no ensino e aprendizagem dos conteúdos disciplinares. Nem como mero veículo de transmissão de habilidades básicas para ganhar a vida. A escola de que precisamos deve buscar antes de tudo formar intérpretes críticos que fazem perguntas: Quem disse isso? Por que eles disseram isso? Por que devemos acreditar? Quem se beneficia por criá-lo e ser guiado por ele? (maçã e feijão).

Nem as competências nem as chamadas habilidades do século XXI obviamente esgotam o que hoje é importante que nossas crianças e jovens aprendam na escola (a escola é muito mais que um rol de saberes, é muito mais ainda que aprendizagens verificáveis), mas conversar e debater sobre eles nos permitirá abordar criticamente as questões que nos colocamos e, em última análise, nos permitirá dar um sentido comum e compartilhado à escola e às suas aprendizagens.

Hannah Arendt disse que a educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o suficiente para assumir a responsabilidade por ele e assim salvá-lo da ruína que, se não fosse a renovação, se não fosse a chegada dos novos e dos jovens, seria inevitável.

Eduquemos, portanto, para que o mundo perdure além de nós mesmos. Lutemos contra a reprodução das desigualdades. Trabalhemos para desnaturar os destinos truncados. Vamos abrir possibilidades para todos. Vamos pensar juntos a escola que queremos.Carlos Magro, Presidente en Asociación Educación Abierta

Referências

  • Michael Apple y J. A. Beane (2012). Escuelas democráticas. Madrid. Ediciones Morata
  • Hannah Arendt (1996). Entre el pasado y el futuro. Ocho ejercicios sobre la reflexión política. Barcelona. Ediciones Península
  • Daniel Brailovsky. Qué hace la Pedagogía y por qué es importante para los educadores
  • Daniel Brailovsky (2019). Pedagogía (entre paréntesis). Buenos Aires. Noveduc
  • Paulo Freire (1997). Pedagogía de la autonomía. Saberes necesarios para la práctica educativa. Madrid. Siglo XXI
  • Carlos Skliar (2019). Pedagogías de las diferencias. notas, fragmentos, incertidumbres. Buenos Aires. Noveduc.

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