Educar e reeducar um planeta para viabilizar o futuro
Se até alguns anos atrás a sustentabilidade parecia ser um problema dos outros, não há mais como negar: sentimos hoje os efeitos na própria pele, suando sob um calor que bate seguidos recordes. O ano de 2023 foi o ano mais quente já registrado, mas precisamos lembrar que esta é apenas a ponta do iceberg. Desertificação, crise hídrica, poluição dos oceanos, esgotamento de recursos naturais, a lista de desafios ambientais é imensa e a conta está chegando.
Em igual urgência, está a agenda social. Os grandes desafios contemporâneos, especialmente a falta de oportunidades e a desigualdade que avançam em nossas sociedades.
Não é preciso procurar muito para encontrar a saída de emergência: de um lado, está na política e na economia, que precisa migrar para uma revolução verde e mais justa socialmente. De outro... sim, a escola. É preciso educar – e reeducar – todo um planeta para viabilizar o futuro.
Mais uma tarefa para essa instituição tão pressionada? Mais um conteúdo para encaixar entre tantos outros? Mais uma preocupação para o gestor? Nada disso, desta vez é diferente. Educar para a sustentabilidade é, cada vez mais, mudar nossa própria cultura para nos tornarmos também sustentáveis. É um compromisso de todos, indivíduos e organizações de todos os tipos, e por isso é agora também um compromisso da escola e de suas comunidades.
Em primeiro lugar, há uma dimensão em que o papel da Educação é insubstituível: trata-se do campo pedagógico, da difusão do conhecimento, da construção de atitudes e valores sustentáveis. É na sala de aula, nos espaços de convivência, na experiência do contato com o entorno escolar que crianças e adolescentes aprendem a habitar o mundo real. Suas prioridades, seus sonhos, suas possibilidades, seus compromissos com os coletivos e com o planeta são desenhados nos anos de escolaridade. Este é o domínio da instituição criada para formar cidadãos: a escola.
Ao mesmo tempo, escolas também são consumidoras de energia, água, alimentos e insumos diversos, como papel, copos plásticos, tinta. A gestão sustentável precisa ter em conta a missão de garantir o consumo responsável desses recursos porque assim todos precisamos fazê-lo, sem dúvida. Mas, especialmente, porque escolas representam uma referência social da maior importância e de máxima credibilidade. Crianças e adultos aprendem pelo exemplo de suas escolas e seus educadores.
Por mais desafiador que seja, este cenário deve produzir mais a esperança realizadora que ceticismo paralisante. Precisamos lembrar que já há um movimento forte e profundo nascendo na educação, em todo o planeta. As escolas começam a se transformar para se tornar sustentáveis e é preciso reconhecer esse esforço – inclusive para apoiá-lo.
Por isso, para enfatizar esse princípio, mobilizar os educadores, estimular mudanças de postura, reconhecer bons projetos na área e induzir transformações, a Santillana, a Organização de Estados Ibero-Americanos (OEI) e a Fundação Santillana lançaram no ano passado o primeiro Prêmio Escolas Sustentáveis, aberto a escolas públicas e privadas do Brasil, México e Colômbia.
A primeira edição mostrou o acerto da iniciativa, com mais de 1.100 projetos inscritos das escolas públicas e privadas do Brasil, México e Colômbia e um banco de boas práticas aberto à consulta pública. Agora, a expectativa é que a segunda edição chegue ainda mais longe. É preciso que seja assim. Para que se incorporem ao movimento global pelo desenvolvimento sustentável, as escolas devem se sentir protagonistas no processo, incorporando os princípios em todas as suas dimensões.
A segunda edição do Prêmio valoriza ainda mais os projetos que nascem no âmbito da escola, extrapolam os seus muros e beneficiam as populações do entorno. Ao contemplar todo ciclo da educação básica, convida crianças, jovens e profissionais do ensino para uma iniciativa cidadã e colaborativa em benefício da comunidade.
As escolas podem inscrever quantos trabalhos desejarem, da Educação Infantil ao Ensino Médio, relatando ações de conscientização ambiental, desenvolvimento de programas com impacto no entorno, parcerias, inclusão social, educação antirracista, educação para cidadania, defesa dos direitos humanos, liderança ética, participação da comunidade na gestão, entre outros. O regulamento está em https://premioescolassustentaveis.com/
Nos diferentes países onde atua, a Santillana, a Fundação Santillana e a OEI aprofundam seu compromisso com o desenvolvimento sustentável e a os princípios do ESG (governança ambiental, social e corporativa). identificar e reconhecer as iniciativas em favor da sustentabilidade é uma das formas de ajudar nossos sistemas educativos a avançar na Agenda 2030 e nos compromissos estabelecidos pelos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Assim também é importante que alunos, professores e escolas sintam que não estão sozinhos, e fazem parte de um esforço mundial nunca antes feito coletivamente pelos seres humanos para salvar nossa casa comum, o planeta azul, a Terra.
Luciano Monteiro é diretor-executivo da Fundação Santillana